domingo, 18 de julho de 2010

POR MIM, POR NOS E PELAS OUTRAS: NÃO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER



“No Brasil, as agressões contra as mulheres ocorrem a cada 15 segundos e os companheiros são responsáveis por quase 70% dos assassinatos do sexo feminino.”

Apesar dos avanços obtidos com a aprovação da Lei Maria da Penha que torna crime a violência contra a mulher, não estaremos seguras enquanto tivermos uma cultura que legitima a posse e o domínio do homem sobre a mulher, relações hierarquizadas, onde os homens subjugam as mulheres a todas as suas vontades, usando muitas vezes a violência como forma de demonstrar seu poder.

Somente no primeiro semestre de 2010 foram noticiados vários casos de violência contra a mulher no Estado do Rio de Janeiro. O mais recente deles é o caso do desaparecimento de Eliza Samudio, 25 anos, ex-namorada e mãe do filho do goleiro do Flamengo Bruno.

Em outubro do ano passado, Eliza Samúdio já havia prestado queixa contra o Bruno por sequestro, ameaça e agressão na Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Jacarepaguá. De acordo com o depoimento dela, Bruno e dois amigos a obrigaram a ingerir remédios abortivos na ocasião. A mulher disse que o goleiro chegou a ameaçá-la com uma arma apontada para a cabeça.

O laudo do Instituto Médico legal feito por ela na ocasião encontrou "vestígios de agressão" na jovem. A delegada Maria Aparecida Mallet chegou a pedir medidas protetivas que impediam Bruno de se aproximar mais do que 300 metros de Samúdio e de sua família.

Apesar de todas as medidas tomadas pela vítima, isso não foi suficiente para proteger sua vida, visto que a mesma encontra-se desaparecida há mais de 3 semanas.
Embora, este seja o caso mais noticiado no momento, outras mulheres continuam sendo vítimas de violência por parte de seus companheiros, como o caso de Orestina Soares, de 53 anos, que foi morta a pedradas por seu namorado, em Duque de Caxias; de Antônia Eliane Farias, que em novembro do ano passado foi torturada por seu ex-marido com mais de 30 facadas pelo corpo e em conseqüência dessa violência usa próteses e só anda com a ajuda de muletas; Outro caso que divulgado foi a morte de Dayana Alves da Silva, 24 anos, após ser incendiada por seu ex-marido enquanto trabalhava no Engenho de Dentro, ela morreu após ficar dois meses internada. Isto também ocorreu mesmo após a jovem já ter registrado três ocorrências do ex-marido na DEAM, inclusive no dia anterior ao crime, sem que nenhuma providência fosse tomada.

Lembramos que esta triste realidade não é vivenciada pelas mulheres só no Rio de Janeiro. Em São Paulo, acompanhamos estarrecidas há algumas semanas, o caso do desaparecimento e assassinato de Mércia Nakashima, onde o principal suspeito também é seu ex-namorado. Em Lauro de Freitas, Bahia, no dia 17 de Abril Mônica Peixinho, 28 anos, foi encontrada morta com um tiro na nuca e seu principal suspeito é seu companheiro, que continua solto.

Estes e tantos outros casos de violência contra a mulher, muitas vezes não noticiados pela grande imprensa, que ocorrem pelo Brasil a fora, nos mostra que nós mulheres não estaremos seguras enquanto a Lei Maria da Penha não for aplicada sem exceções; enquanto persistir a impunidade e a banalização da violência contra nós mulheres; enquanto não tivermos profissionais capacitadas(os) para atender as mulheres vítimas de violência, que tem coragem para denunciar a violência vivida nas DEAMs; enquanto o Estado não for capaz de garantir a segurança das mulheres que tentam romper o ciclo de violência.

Para tanto é fundamental que as medidas protetivas sejam efetivamente implementadas e que as mulheres possam contar com a proteção da polícia, acompanhamento jurídico e psicológico por parte do Estado; e a criação dos Juizados Especiais de Violência doméstica e intrafamiliar contra a mulher é uma importante ferramenta para coibir a violência. Todas estas medidas estão previstas na Lei Maria da Penha, porém não estão sendo implementados.

Os verdadeiros motivos que levam esses agressores a cometer estes terríveis crimes, estão enraizados em valores disseminados cotidianamente em nossa sociedade. Onde a mulher é vista como objeto, que devem estar a disposição dos homens, sobre as quais eles devem manter o poder sobre seus corpos, seus sentimentos, seus atos. E quando não mais é possível dominá-las, estes determinam sobre suas vidas e morte.

Assim, devemos neste momento nos questionar até quando a nossa sociedade aceitará violências, agressões, tortura e morte de mulheres, mascaradas pela desculpa do amor. Até quando permitiremos que o amor em nossa sociedade seja usado como desculpa para manter posse, poder e domínio sobre as mulheres... Devemos lembrar a velha frase usada pelo movimento feminista, mas infelizmente, ainda longe de sair de contexto: QUEM AMA NÃO MATA! Devemos ficar atentas, pois em nossa sociedade esta mais do que provado que O MACHISMO MATA!!!

Por isso devemos nos unir e espalhar por todos os cantos deste país: Chega de machismo, chega de violência, chega de mortes... POR MIM, POR NÓS E PELAS OUTRAS NÃO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER!
Rio de Janeiro, 09 de julho de 2010.
ASSINAM:

Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB; Associação de Mulheres de Cavalcanti; ASPLANDE; Casa da Mulher Trabalhadora – CAMTRA; Caminhos de Luz; CEASM/Museu da Maré; Centro de Documentação e Informação Coisa de Mulher; Centro de Mulheres dos Pombos; Centro de Pesquisas Criminológicas do Rio de Janeiro; Centro Socorro Abreu de Desenvolvimento Popular e Apoio a Mulher; Coletivo de Mulheres Negras do RJ; Coletivo Rap de Saia; Conselho de Mulheres da Zona Oeste; Com Causa – Cultura de Direitos; Conselho Estadual dos Direitos da Mulher; Cultura e Gênero – UNESP; Fórum Feminista do Rio de Janeiro, Grupo Tia Angélica; Instituto BAOBAB – Educação, Gênero e Cultura Negras; O Movimento do Graal no Brasil; Movimento D’ELLAS; Rede de Mulheres Negras-PR; Movimento Negro Unificado de Pernambuco; Rede de Desenvolvimento Humano; Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Reprodutivos; Se essa Rua fosse Minha; Sociedade das Jovens Negras Feministas de Pernambuco; União Brasileira de Mulheres; e mais 1045 assinaturas de cidadãs e cidadãos brasileiras(os).

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