segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cem anos de Pagu, musa do modernismo



Em seu centenário, a rebelde Patrícia Galvão ganha fotobiografia e programação em várias cidades.

Pagu era comunista e é uma referência no debate sobre a emancipação da mulher

Ela foi precoce em tudo. Aos 12 anos, conheceu o diretor do primeiro filme neorrealista brasileiro, Fome (1931), Olympio Guilherme, com quem teve sua primeira experiência sexual. Aos 19, começou um explosivo romance com o escritor Oswald de Andrade, levando-o a terminar seu casamento com a pintora Tarsila do Amaral. Aos 20 anos, militante, incendiou o bairro do Cambuci em protesto contra o governo provisório. E, aos 21, tornou-se a primeira mulher presa no Brasil por motivos políticos, substituindo num comício comunista um amigo estivador, morto em seu braços pela polícia. Essa foi Patrícia Galvão, diva do movimento modernista brasileiro cujo centenário de nascimento é comemorado hoje com a abertura da programação Viva Pagu, no Centro de Estudos Pagu Unisanta, em Santos.

Programação

A programação do centenário envolve várias cidades, entre elas Santos, Paraty (na Flip) e São Paulo (nesta quinta, 9, serão apresentadas cartas inéditas suas na Casa das Rosas). No dia 1º de julho, no mesmo local, será lançado o livro Viva Pagu - Fotobiografia de Patrícia Galvão, de Lúcia Maria Teixeira Furlani e Geraldo Galvão Ferraz, seguido de uma exposição com imagens raras da também pioneira escritora militante: é dela o primeiro romance proletário publicado no Brasil, Parque Industrial (1931).

A fotobiografia, com documentos inéditos, será seguida (no fim do ano) por uma coleção de quatro livros que reúne toda a produção jornalística de Pagu. Associada à figura da extravagante garota que conquistou o inventor do modernismo e depois virou militante comunista, Pagu, parente de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, foi amiga de intelectuais como Borges e Breton. ela morreu em 1962 e traduziu autores importantes (Ionesco, Arrabal), formando dramaturgos como Plínio Marcos.

Versátil, ela também foi dramaturga

Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, também criou para o teatro. Foram peças curtas em um ato, como Fuga e Variações, escrita em 1954. Ela resumiu assim esse seu trabalho: "Jovens colegiais em conflito com os pais, a própria condição, o ambiente, os estudos, os ideais, a religião, a verdade, a liberdade e a coação com o mundo."


Reprodução

Pagu e Oswald de Andrade, romance que começou quando tinha 19 anos
Inspiração. Ao conhecer Tarsila e Oswald, aos 18 anos, ficou tão influenciada por ela que copiou seu estilo de desenho

Paixão. Pagu e Oswald de Andrade recém-casados, em 1930, uma relação marcada pelo sofrimento por causa da infidelidade do marido

Engajamento. Capa do primeiro romance proletário brasileiro, Parque Industrial (1931), que Pagu assinou com pseudônimo

Portal Vermelho - 4 de julho de 2010
[republicado do jornal 'O Estado de São Paulo']

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